O suicídio do jornalismo. ( Sylvia Debossan Moretzsohn)

A pergunta que gera grandes debates e polêmicas: Qual o futuro do jornalismo? As inovações tecnológicas dos últimos anos mostraram que toda a sociedade precisa se transformar e se adequar rapidamente à evolução. Enquanto antes tínhamos meses ou anos para nos adaptarmos, agora temos dias. O tempo mudou também. O cotidiano acelerado demonstra isso facilmente. Milhões de informações são despejadas sobre nós por todos os lados. Não se pode mais ser atrasado. Em meio ao caos, o jornalismo tenta se estabilizar. Adequou-se ao rádio, à TV, e agora, se insere na Internet. Porém, o que fazer quando as profecias começam a se tornar realidade e o jornalismo é ameaçado?

“Rapidamente a hipótese de o público montar seu próprio jornal por esse método foi substituída pela exaltação do protagonismo desse mesmo público na produção de notícias. Sem qualquer base para argumentação, porque deveria ser evidente que esse público, de modo geral, não tem acesso às fontes que poderiam fornecer informações nem competência ou tempo para apurar o que quer que seja. Porém, com a ajuda de teóricos afamados que surfam a onda do momento e só produzem espuma, mas têm grande audiência inclusive e sobretudo no meio acadêmico, essa ideia libertária do jornalismo-cidadão se disseminou. E ajudou a minar o terreno em que se pratica o jornalismo profissional, dentro ou fora das grandes empresas de mídia.” pg. 1

“Ocorre que a caça ao clique é a morte anunciada do jornalismo, porque o que costuma excitar o público é a surpresa, o escândalo, o bizarro, o curioso, o grotesco. Em síntese, o fait-divers, que sempre foi elemento periférico para os jornais de referência.” pg. 1

“Restaria indagar o que se classifica como “notícia”: há muitos anos, uma pesquisa sobre a audiência de programas radiofônicos populares indicou que boa parte daquele público considerava “notícia” a publicidade de promoções de supermercado, feita pelos animadores durante os programas.” pg. 1

” Mudam as tecnologias, não os fundamentos. O jornalismo não precisa se reinventar: precisa corresponder ao ideal que o justifica e o legitima socialmente. ” pg. 2

 

A Cauda Longa. (Chris Anderson)

Fonte: http://goo.gl/N7dPpb

“Se a indústria do entretenimento no século XX baseava-se em hits, a do século XXI se concentrará com a mesma intensidade em nichos.” pg. 1

“Sob a tirania da geografia, público muito difuso e, por conseguinte, muito rarefeito é o mesmo que ausência de público.” pg. 2

“Nela e possível encontrar qualquer coisa, como velhos sucessos, ainda lembrados com carinho por fãs dos bons tempos ou redescobertos por novos aficionados: as gravações ao vivo. as faixas que não fizeram tanto sucesso, as remíxagens e, para espanto geral, até capas. Os nichos chegam às centenas, gêneros, dentro de gêneros, dentro de gêneros (imagine toda uma grande loja de CDs inteiramente dedicada às bandas de cabeludos da década de 1980 (hair hands) ou a músicas ambientais rítmicas (ambient dub). Também há bandas estrangeiras, cujos preços as tornavam inacessíveis nas prateleiras de importados, e bandas obscuras ou até etiquetas ainda mais desconhecidas – muitas das quais não têm força suficiente para entrar nas grandes lojas.” pg. 4

“Então, à medida que a demanda se desloca para os nichos, a economia do fornecimento melhora ainda mais, e assim por diante, criando um loop de feedback positivo, que metamorfoseará setores inteiros — e a cultura — nas próximas décadas.” pg. 6

“Hoje, milhões de pessoas comuns tem as ferramentas e os modelos para se tornarem produtores amadores. Algumas também terão talento e visão. Como os meios de produção se difundiram com tamanha amplitude, entre tantas pessoas, os talentosos e visionários, ainda que representem uma pequena fração do total, já são uma força a ser levada em conta. Não se surpreenda se algumas das obras mais criativas e influentes das próximas décadas forem produzidas por essa classe Pro-Am de aficionados inspirados, em vez de provirem das fontes tradicionais do mundo comercial. O efeito dessa mudança significa que a Cauda Longa crescerá em ritmo nunca dantes visto.” pg. 10

“O modelo clássico da enciclopédia é uma lista supervisionada da erudição convencional. Além dos cânones básicos, que devem ser reconhecidos por autoridades, há outros verbetes, de extensão decrescente, até que se chega ao ponto em que os sacerdotes da Britannica decidem: Isso não vale a pena. E aí termina a enciclopédia clássica. A Wikipedia, ao contrário, continua.” pg. 13

“Pode-se refletir sobre a Cauda Longa como algo que começa como economia monetária tradicional na cabeça e que termina como economia não-monetária na cauda. Entre os dois extremos, predomina uma mistura de ambos os modelos.” pg. 14

“No topo da curva, os estúdios cinematográficos, as grandes gravadoras e as editoras defendem com ferocidade seus direitos autorais. No meio, domínio dos selos independentes e das editoras universitárias, situa-se uma área cinzenta. Mais abaixo, na cauda, principalmente na zona não-comercial, um número cada vez maior de criadores de conteúdo está optando de maneira explicita por abrir mão de algumas de suas proteções de propriedade intelectual” pg. 15

“A busca por aceitação no mercado de massa exige concessões — a disposição para abordar questões de amplo interesse, em vez das que atraem apenas uma pequena minoria, e escrever em tom coloquial, em vez de era estilo acadêmico. A maioria dos escritores não consegue agir assim e muitos outros não querem. Ao contrário, quase todos os autores preferem seguir suas paixões e aceitar que não ganharão muito dinheiro. Muitos nada mais querem do que ser lidos por algum grupo de afinidade — por seus pares ou por pessoas com interesses semelhantes.” pg. 15

“Uma das grandes diferenças entre a cabeça e a cauda dos produtores é que, quanto mais se desce na cauda, maior é a probabilidade de que se tenha de manter outro trabalho regular.” pg. 16

“Desde cineastas até bloguistas, produtores de todos os tipos, que começam na cauda, com poucas expectativas de sucesso comercial, podem dar-se ao luxo de correr riscos, pois têm menos a perder. Não há necessidade de licença prévia, de plano de negócios nem mesmo de capital. As ferramentas da criatividade agora são baratas e, ao contrário do que imaginávamos, o talento se distribui de maneira mais dispersa. Sob esse aspecto, a Cauda Longa talvez se transforme na área crucial da criatividade, lugar onde as ideias se formam e se desenvolvem, antes de se transformarem em sucessos comerciais.” pg. 16